sábado, 3 de julho de 2010


Alguns até indagavam: para que tanta maquiagem? 
A resposta, não muito evidente, estava vinculada a um 
medo vital e preciso. É que a face humana se parece inundada de maquiagem. Por todos os cantos. Como se fossem máscaras, usadas religiosamente, em seu cotidiano.

Não me é necessário muita fantasia.
Em meio à turbulência de preocupações umbilicais que cada 
um possui, não há tempo para se notar o evidente do 
outro.

A forte maquiagem e o nariz vermelho bem intenso já bastam para eu me enganar e ainda conseguir gerar risadas alheias.

Mas, aconteceu que naquele dia, a alegria dos outros me 
espantou.Alguma coisa morreu em mim.
Não adiantavam pinturas faciais e nem tão pouco algum 
tipo de máscara. 
Era, de fato, um triste palhaço. Um 
palhaço mendigando os sorrisos diabólicos de outrem.

Autora: Thobila

segunda-feira, 7 de junho de 2010


Era um ser que foi separado. Num trabalho cotidiano, o ser foi escolhido para ala dos rejeitados. Separado de quem escolhe. Apenas classificado, escolhido. Conduzido pelo desejo de desvendar o próprio determinismo, à espreita de cruzar a linha invisível que o afastava. Desviavam de si as verdades de quem ele era, pois estas eram complicadas de suportar. Por ignorar-se, o ser aparentava mistério. Por não se conhecer era hermético. 
Foi tornando-se também, um mascarado sem instrução de si; um palhaço que não sabia; um inocente culpado. 
Tornou-se então, um nostálgico pelo que não havia de conhecer; um saudoso pelo que, de fato, perdera. Tudo isso, sem congruência, maquiou o ser com uma alegria supérflua. Isso tudo, contraditoriamente, foi fazendo dele um palhaço com necessidade de se expor, comunicar o que não era.
Foi assim que o mal-entendido fez-se ao seu redor. As pessoas acreditavam que estavam diante de alguém alegre, constante, imutável, feito um quadro. Não perceberam que o que viam era a tristeza disfarçada de um palhaço. E, por engano, o ser virou famoso e subiu em vários Palcos. 
Por ironia, ou por equívoco, o ser era amado. 
Porém, sentir-se amado era admitir-se a si mesmo na maquiagem do Palhaço, que não o era. Aquele ser se via amado como se fosse outro ser. Foi aí que o Palhaço não mais conteve suas lágrimas. Aquele ser chorou. Forjadamente amado, o palhaço-triste se doía por inteiro. Quem o deu a fama lhe virava as costas, pois nem sequer o reconhecia em meio a enchente dos seus olhos, que faziam borrar a sua perfeita maquiagem. O ser doía-se solitariamente.
É verdade que o palhaço-triste preparou-se tanto para ser aceito que, ao sentir-se assim, famoso e reluzente, percebera que não havia aprendido a sorrir.
No entanto, algo deu errado. Haviam feito dele, nada mais que piadas, que rude humor.
E se viu perdido.
As pessoas tinham se dado apenas ao palhaço. E, sobre a sua caiada pintura de bobo da corte, escorriam correntezas de lágrimas.
Na expectativa de tornar-se mais real, o ser foi aos poucos tirando a sua maquiagem, e se diminuindo até chegar a quem ele era. Mas, tudo o que o palhaço fazia só dava legitimidade ao seu personagem. Quem ele era, passou a ser apenas um coadjuvante do Palhaço. Não importava o que ele fizesse, até mesmo se matar, apenas tornaria mais cômica à vida do personagem.
E, com os dias ele foi caminhando. Desiludido. Morrendo aos poucos. Sem ter aprendido o que é sorrir. Sem graça, acompanhado apenas por risadas cruéis alheias. Separado. 
Classificado: Palhaço.
 E, sem dúvida Triste.
 Um Palhaço- Triste.

Autora: Thobila Gabriela de Lima Costa
Participante do Choro do Palhaço

segunda-feira, 31 de maio de 2010



Por favor,
Homem revoltado
Homem ludibriado
Homem usurpado
Homem ignorante
Homem passivo
Homem covarde,
Deixa este Nariz aí!
Tira este Nariz do rosto!
Este Nariz é do Palhaço.
Faz parte da alma dele.
Não é utensílio de fracos.
Respeite-o.
Quer protestar?
Vai a luta!
Mostra a tua cara não a do Palhaço,
Quer fazer greve?
Mostra a tua cara não a do Palhaço.
Quer reclamar do governo?
Quer reclamar dos bancos?
Quer fazer uma revolução?
Quer mudar o mundo?
Mostra a tua cara não a do Palhaço.
E se conseguires alguma transformação,
Aí sim, o Palhaço te concederá o seu Nariz.
Mas o Palhaço não é esta frouxidão que tu és.
Não te confundas com o nobre Palhaço.
Há muito ele é o condutor da alegria,
Da sensibilidade, da liberdade, da emoção,
Da docilidade e da verdade também!
Ele não se oculta como tu.
Há muito habita o universo mágico da pureza
E por isso é tão sentido pelas crianças.
O Palhaço não é aquele lado teu que foge de medo,
Que não enfrenta a luta nem se expõe.
Tira então este Nariz, Homem!
E mostra a tua própria cara.
Pode ser que teus problemas comecem a ser resolvidos.
E quem sabe um Palhaço sorrirá para ti?
Se fores um lutador de verdade.
Autor: Paulo Roberto

sexta-feira, 28 de maio de 2010



Coloca sua máscara para sobreviver.
Sorri, chora, fica brava, faz pirraça.
Desnorteada sente que vai enlouquecer
e como palhaço acha graça da desgraça.

No picadeiro da vida faz malabarismo,
mágica e se arrisca no globo da morte.
Sofre inquieta sem entender o absolutismo,
o desmando de gente que se acha forte.

Parem com esse falso espetáculo,
deixem que a máscara do palhaço caia,
que consiga atingir seu pináculo
mesmo que só consiga vaia.


terça-feira, 25 de maio de 2010


Não sei se gosto ou se me acostumei com a minha condição, mas sair de casa se tornou um grande desafio, uma épica aventura homérica. Talvez o maior problema não seja ser notado, mas sim não me sentir fuzilado e nu, diante de tantos carrascos.

Quem sabe o mundo não esteja preparado para mim. Seria uma conveniente desculpa e uma eloqüente verdade com a qual eu viveria sem dificuldade – minha cadeira de rodas –, mas me faria continuar nesse movimento perpétuo.

Tenho por amargos os dias em que forçava o sorriso e desejava bom dia aos familiares estranhos de sempre. Agora, quero que me vejam, que me toquem, que possam distinguir meus oceanos profundos de minhas marés baixas, meus movimentos mais delicados sem que eu diga palavra qualquer.

Foi difícil manter minha cabeça aberta e aceitar o que eu sou, minha função nas engrenagens de tudo, meu super poder. Achei que produzia sorrisos e descobri que apenas dava-lhes os meus. Quis crer que no centro do palco me veriam, mas nenhum deles quis enxergar alguém além de tantas cores e piadas.

O disfarce perfeito para minha melancolia; de tanto o vestir me vi preso nele. Não tenho as chaves da cela que criei, me internei voluntariamente e não me deixam mais sair.

Dei todos os sorrisos que tinha e já não me resta muita coisa. Um bocado de lembranças, roupas velhas guardadas em gavetas, sapatos que nunca me serviram e um maço de cigarros. Quem dera quisessem partilhar um pouco de minhas angústias também.

Se eu fosse poeta saberia como me defender, mas sou só mais um palhaço triste a se repetir.


Autor: Raphael Rocha

Participante do Choro do Palhaço.

Autor do Blog: http://noneedforinnocence.blogspot.com/


Nunca gostei de palhaço.
Nunca gostei daquela cara pintada, a esconder a tristeza.
Palhaços, na verdade, nunca me enganaram.
Ainda criança, enquanto as demais riam das piruetas e das piadas repetitivas,
eu ficava a olhar aquela face branca de boca desenhada
e nariz vermelho
e pensava, com os meus botões:
"A quem ele pensa que diverte?
Coisa mais sem graça esse marmanjo
vestido de criança e tentando ser engraçado".
Assim, sempre tive birra desse ser caricato.
Até que...
Até que a vida fez-me também um palhaço.
Um dia, vi-me obrigada a mentir.
E, embora me sentisse mal no primeiro momento,
acabei me acostumando.
Afinal de contas, não se pode dizer a verdade todo o tempo.
Como dizer àquela senhora que o cabelo recém-pintado está horroroso,
ou àquela criança que o pai, do qual ela tanto se orgulha e quer imitar, é um canalha?
No outro dia, vi-me obrigado a dizer coisas "engraçadas"
quando tinha vontade de chorar...
Senti-me péssimo, claro! Mas, como dizer à minha avó que ela estava com câncer
e que, em pouco tempo, ia morrer?
Preferi contar-lhe um dos causos mineiros de que ela tanto gostava
e ver, talvez pela última vez o seu sorriso, do que fazer o que eu tinha vontade
no momento, que era apertá-la com força
junto ao peito e chorar.
Outro dia, ainda, vi-me obrigado a colocar
uma máscara de falsidade no rosto
e dar um lindo sorriso, quando me roía de raiva por dentro.
Afinal, como fulminar com palavras grosseiras o homem
que era o meu chefe,
se eu precisava tanto daquele emprego
a fim de ajudar a família?
E, finalmente, um dia percebi que eu era tão pateticamente sem-graça
quanto o palhaço que eu sempre odiara.
Aliás, era ainda mais... porque o palhaço, pelo menos,
fazia toda aquela encenação no palco, a fim de arrancar risadas das crianças
e garantir a sua subsistência...
E eu, pobre de mim, nunca ganhei um tostão sequer,
para fazer meu show...
e a minha platéia, jamais me aplaudiu...

Autor: Lucas Lisieux



Alguém me disse que você
perguntou por mim.
Queria saber como estou?
Eu estou assim:
do jeito que você me deixou.

Como um triste palhaço,
que a ninguém consegue divertir;
que acaba causando embaraço
na criança que não pôde sorrir.

Como num circo vazio
meu coração-domador
tenta vencer esse desafio:
reconquistar a platéia do amor.

Depois de você,
não me acertei com ninguém.
Sabe por quê?
Só você me faz bem!



Autor: Hernany Tafuri


 

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