segunda-feira, 7 de junho de 2010


Era um ser que foi separado. Num trabalho cotidiano, o ser foi escolhido para ala dos rejeitados. Separado de quem escolhe. Apenas classificado, escolhido. Conduzido pelo desejo de desvendar o próprio determinismo, à espreita de cruzar a linha invisível que o afastava. Desviavam de si as verdades de quem ele era, pois estas eram complicadas de suportar. Por ignorar-se, o ser aparentava mistério. Por não se conhecer era hermético. 
Foi tornando-se também, um mascarado sem instrução de si; um palhaço que não sabia; um inocente culpado. 
Tornou-se então, um nostálgico pelo que não havia de conhecer; um saudoso pelo que, de fato, perdera. Tudo isso, sem congruência, maquiou o ser com uma alegria supérflua. Isso tudo, contraditoriamente, foi fazendo dele um palhaço com necessidade de se expor, comunicar o que não era.
Foi assim que o mal-entendido fez-se ao seu redor. As pessoas acreditavam que estavam diante de alguém alegre, constante, imutável, feito um quadro. Não perceberam que o que viam era a tristeza disfarçada de um palhaço. E, por engano, o ser virou famoso e subiu em vários Palcos. 
Por ironia, ou por equívoco, o ser era amado. 
Porém, sentir-se amado era admitir-se a si mesmo na maquiagem do Palhaço, que não o era. Aquele ser se via amado como se fosse outro ser. Foi aí que o Palhaço não mais conteve suas lágrimas. Aquele ser chorou. Forjadamente amado, o palhaço-triste se doía por inteiro. Quem o deu a fama lhe virava as costas, pois nem sequer o reconhecia em meio a enchente dos seus olhos, que faziam borrar a sua perfeita maquiagem. O ser doía-se solitariamente.
É verdade que o palhaço-triste preparou-se tanto para ser aceito que, ao sentir-se assim, famoso e reluzente, percebera que não havia aprendido a sorrir.
No entanto, algo deu errado. Haviam feito dele, nada mais que piadas, que rude humor.
E se viu perdido.
As pessoas tinham se dado apenas ao palhaço. E, sobre a sua caiada pintura de bobo da corte, escorriam correntezas de lágrimas.
Na expectativa de tornar-se mais real, o ser foi aos poucos tirando a sua maquiagem, e se diminuindo até chegar a quem ele era. Mas, tudo o que o palhaço fazia só dava legitimidade ao seu personagem. Quem ele era, passou a ser apenas um coadjuvante do Palhaço. Não importava o que ele fizesse, até mesmo se matar, apenas tornaria mais cômica à vida do personagem.
E, com os dias ele foi caminhando. Desiludido. Morrendo aos poucos. Sem ter aprendido o que é sorrir. Sem graça, acompanhado apenas por risadas cruéis alheias. Separado. 
Classificado: Palhaço.
 E, sem dúvida Triste.
 Um Palhaço- Triste.

Autora: Thobila Gabriela de Lima Costa
Participante do Choro do Palhaço
 

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